Carlos Chagas
Marcou ponto no cenário internacional o presidente Lula, discursando na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas e na Organização Internacional do Trabalho, ontem, em Genebra. Mesmo seus adversários mais empedernidos elogiaram a defesa que fez dos imigrantes e o diagnóstico de que as 50 milhões de demissões verificadas no planeta por conta da crise econômica devem ser debitadas aos responsáveis pela própria, ou seja, a crise econômica.
Deixou o presidente claro que direitos humanos fundamentais são o direito à vida, à alimentação, à moradia e ao trabalho. Se o chamado mercado falhou ao precipitar a débâcle financeira, a hora é de os poderes públicos atuarem de forma compensatória, defendendo os mais fracos, a começar pela manutenção e a ampliação de empregos. Claro que às custas do lucro das elites que dominam o mercado.
Mesmo sob o risco de virem a ser ignoradas pelo mercado, as palavras do Lula não caíram no vazio. Marcaram a posição que levou o presidente Barack Obama a chamá-lo de “o cara”. E foram elogiadas, um dia depois, pelos dirigentes da Rússia, China e Índia, em reunião com ele, nas estepes. Nada mau para um mundo obrigado a transformar-se por conta da crise econômica, As nações do G-8 dão de ombros, mas encontram-se cada vez mais pressionadas a ouvir acima e além da voz rouca das ruas. No caso, o grito por mudanças fundamentais nas relações humanas.
Escapou algum?
A pergunta que se faz em Brasília é se escapou um senador que seja, dessa enxurrada de lambanças praticadas há anos no Senado. Do mau uso das passagens aéreas às nomeações de parentes e amigos, dos “decretos-secretos” ao recebimento de auxílio-moradia pelos que não tem direito e quantas práticas irregulares a mais conduzem a casa a um de seus piores momentos?
Busca-se uma saída imediata para resgatar a imagem do Senado e ela não aparece. Não haverá CPI da Petrobrás que dê jeito. Nem mesmo a votação de projetos com nítido sentido social, como a polêmica derrubada do veto do presidente da República aos direitos dos aposentados. Esperar a renúncia dos responsáveis, jamais. Para cada corredor ou gabinete que se olhe, é só escuridão.
Remédio há, mas encontrado bem longe do palácio do Congresso: a disposição do eleitorado de não reconduzir os lambões nas eleições do ano que vem. Pelo menos dois terços deles, porque a renovação de 2010 será parcial. Alguém acredita?
Excessos
A justa indignação de pequena parcela da opinião pública diante do que acontece no Senado leva certos analistas a exageros, como o de que deveríamos fazer a experiência do unicameralismo. Em outras palavras, da extinção do Senado e da transformação da Câmara em Assembléia Nacional.
Fala-se de pequena parcela porque o povão não está nem aí para as lambanças. Faz muito que o cidadão comum desacreditou dos políticos, dos partidos e do próprio Congresso. Trata-se de outro mundo, para a grande maioria.
Agora, acabar com o Senado seria um risco dos diabos. Porque adotamos, desde a Independência, a doutrina de que os deputados representam a população e os senadores, os estados, Isso explica porque São Paulo tem 70 deputados e o Piauí, oito, ao mesmo tempo em que Piauí e São Paulo dispõem de três senadores cada. É o equilíbrio federativo, que se desaparecer aumentará o fosso entre o Brasil desenvolvido e o Brasil miserável.
Melhor seria o aprimoramento da representação popular nas duas casas parlamentares, mas aí surge o grande obstáculo: como, sem ampla reforma política, que os políticos regateiam precisamente por constituir-se em reforma?
Composição inviável
O PMDB exige do PT que apóie seus candidatos a governador em dez estados, os nove que já governa e mais um de quebra. Os companheiros rejeitam a proposta por sentirem chances em muitos estados onde os aliados dominam.
Bem que o presidente Lula tenta conciliar o inconciliável, visando a preservação da aliança em favor da candidatura Dilma Rousseff à sucessão do ano que vem. Mostra-se disposto até mesmo a exigir sacrifícios de seu partido, mas a tanto não chega a liderança por ele exercida. O resultado será uma cobrança dupla: tanto PT quanto PMDB querem que a candidata demonstre potencial fora do comum, no mais breve tempo possível. Sabem que serão decisivos na reta final, esforçando-se ao máximo ou fazendo corpo mole. Quem comemora a composição inviável é o governador José Serra.
terça-feira, 16 de junho de 2009
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