terça-feira, 16 de junho de 2009

Os jornais são insubstituíveis e etenos

Pedro do Coutto

Com o belo, leve e primoroso estilo de sempre, Veríssimo, edição O Globo de 14 de junho, a partir do laptop na era da Internet, prevê a morte do jornalismo impresso com o fim do papel e da tinta, entrando em seu lugar a imagem na tela. Na minha opinião, cometeu um equívoco ao fazer a previsão, a qual, como tantas outras que não se confirmaram através da história, dificilmente poderá se realizar. Não que os avanços tecnológicos não sejam notáveis. Mas sim pelo fato de não serem absolutos no espaço e no tempo. Entretanto, sua utilização está, acima de tudo, condicionada à visão e ao comportamento humano. Os jornais são tão eternos quanto os diamantes, para citar título de Ian Fleming que se transformou na fantástica e saborosa série de James Bond.

Veríssimo focalizou a diferença dos sistemas de cobertura das Copas do Mundo no passar dos anos. Perfeito. A televisão, no Brasil, começou em 1950, mas as transmissões diretas do futebol internacional de fora para dentro do país só tiveram início em 1970 quando nos sagramos tricampeões. Porém, apesar do progresso, quando assistimos futebol não queremos laptop ou celular. Queremos nos sentar diante do aparelho fixo e viajarmos gramado a dentro com nossa torcida e vivendo nossa aventura ao lado da aventura dos outros. Predomina este impulso seja no esporte, seja na arte. Através dos outros, que tanto Sartre criticava, sem razão, é que no fundo chegamos a nós mesmos.

Coloquemos novamente os pés no solo e deixemos de flutuar a nossa idéia. Penso que a imprensa não pode ser substituída, muito menos ultrapassada pela tela, porque esta não oferece ao ser humano a visão panorâmica, imediata que os jornais fornecem. Uma ilusão, inclusive, pensar que os leitores lêm os jornais inteiros. Todos nós, antes de lermos uma matéria atentamente, folheamos todas as páginas e escolhemos aquelas em que desejamos pousar. As imagens da Internet não permitem esta leitura, nem a identificação conjunta dos assuntos. São restritas a pontos definidos da busca. Não podemos alçar um voo simultâneo sobre o que está escrito nos sites ou blogs. Demanda tempo. Num jornal, fazemos a identificação em apenas três minutos. Este é um dos pontos que garantem a eternidade dos jornais. Mas e4xistem outros.

O principal, creio, a separação entre a informação e a opinião. A informação pode ser vista, dependendo de sua importância e peso, mais rapidamente. A opinião, não. Exige leitura e releitura, assim como as leis e os números. Na tela, a opinião perde a força. Como também na televisão e no rádio. Estender conceitos opinativos no rádio ou na TV torna-se enfadonho, desagradável, inócuo e até contraproducente. A opinião exige empunhadura, contato tátil direto, requer que a pessoa tenha diante de si, imóvel, fixo, o texto escrito. Esta característica só pode ser encontrada nos jornais.

Outro exemplo? Eis aí. Se alguém faz uma pesquisa na Internet, fonte fantástica e inultrapassável de informações de todos os tipos e formas, o que faz quando encontra o que procura? Imprime o texto ou a imagem, fica de posse portanto de uma ou mais páginas. Páginas? Onde elas vivem? Onde se encontram? Nos jornais. Inclusive, quando se pronuncia a palavra página, pensa-se logo em jornais e livros. A Internet é um salto extraordinário, um avanço definitivo. Porém convive com os jornais, não ops elimina. Pelo contrário. Acrescenta a seu universo.

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