quarta-feira, 17 de junho de 2009

Exageros injustificáveis

Carlos Chagas

“Tudo o que é demais faz mal” – dizia nossa avó. É preciso refrear os ímpetos sanguinários de certa imprensa hoje empenhada em demolir instituições e sacrificar pessoas. Não se duvida de que lambanças são ou eram praticadas no Senado, quem sabe desde sua fundação. Impossível também será negar que o senador José Sarney escorregou ao permitir e até patrocinar a nomeação de parentes, ou receber auxílio-moradia dispondo de residência própria em Brasília. Ele e muitos outros senadores.

Agora, a partir dessas irregularidades que precisam ser sanadas, ou já foram, não se justifica crucificar todos os dias o ex-presidente da República e, pior ainda, desmoralizar o poder Legislativo. Sarney tem biografia respeitável, que o honra. Credenciou-se como responsável pela consolidação da democracia, na segunda metade dos anos oitenta, coisa que não foi fácil. Engoliu todo o tipo de sapos no exercício de uma presidência que não era dele, mas da qual não fugiu. Tratá-lo como se fosse um Severino Cavalcanti qualquer, além de maldade, equivale a distorção fundamental.

Quanto ao Congresso, apesar de seus excessos, maiores motivos existem para se denunciar os exageros. Querem o quê, esses salvados do incêndio do neoliberalismo? Que o mercado passe a conduzir a nação, depois do vexame que tem sido a sua débâcle? Pretendem amedrontar de tal maneira senadores e deputados, para submetê-los ao papel de meros serviçais de seus interesses financeiros?

Que tal verificar o nepotismo nas empresas privadas, onde costuma ser mil vezes superior ao do serviço público? E com a agravante de que, mesmo na imprensa, filhos, netos e bisnetos guindados a funções para as quais mostram-se tão arrogantes quanto incompetentes terminam levando jornais à bancarrota fatal. Não adianta argumentar que agem com seu próprio dinheiro. A cada falência inevitável, prejudicados mesmo ficam os trabalhadores, ou seja, a multidão de assalariados postos na rua da amargura, tendo sido eles, e não os pimpolhos saltitantes, os responsáveis por sucessos anteriores. Talvez por isso pretendam levar o Congresso à falência.


Questão de submarinos

Comandada pelo “New York Times”, começou nos Estados Unidos nova e singular campanha destinada a manter-nos em posição subalterna. “Para que o Brasil quer um submarino nuclear?” é o título de recente artigo naquele jornal, acompanhado por uma enxurrada de cartas de leitores indignados com nossa pretensão.

Parece óbvia a intenção de nossos irmãos do Norte, prenunciando as mesmas pressões feitas no Oriente Médio e na Ásia, para que outras nações continuem inferiorizadas militarmente. Dessa chantagem não escapou sequer o presidente Barack Obama, preocupado com a paz no mundo. No mundo deles, administrado por eles, é claro.

Faz anos que a Marinha brasileira trabalha para construir um submarino nuclear. Faltam-nos recursos, assim como tecnologia de ponta, mas, aos poucos, vamos avançando.

A reação agora detectada correria por conta da descoberta de imensas reservas de petróleo no pré-sal? Afinal, um submarino nuclear que seja fará diferença, se o imponderável levar os donos do poder mundial a cobiçar tamanha riqueza.

Nos idos do governo Collor, uma carta do presidente George Bush, pai, obrigou à interrupção total de pesquisas brasileiras no setor nuclear, a começar pelo fechamento, com cimento simbólico, da chaminé natural da Serra do Cachimbo. O pretexto era de que poderia servir para experiências com artefatos atômicos. O jovem presidente não pode ou não quis reagir. Agora, recomeçam as manobras. Para quê queremos um submarino nuclear? Pelos mesmos motivos que os americanos possuem mais de cinqüenta...

Uma oportunidade

Desde que o companheiro-mór assumiu a presidência da República que mergulharam as centrais sindicais, as mesmas que incomodavam governos anteriores com movimentações, greves e até arruaças diárias. A CUT, então, foi para as profundezas, dentro do raciocínio de que o governo era dos trabalhadores e os sindicatos não tinham motivo para opor-se a ele. Pelo contrário, parece que aderiram felizes, tal o número de sindicalistas pendurados na máquina pública, diretamente ou através das mais estranhas ONGs.

Eis agora um motivo para as centrais se definirem. Na primeira semana do próximo mês o Congresso deve apreciar veto do presidente Lula a projeto que dava a todos os aposentados reajuste igual ao dos que recebem salário mínimo. Nada mais justo, se quisermos evitar o nivelamento por baixo de quantos deixaram de trabalhar depois de décadas de esforço continuado.

Que tal se as centrais mobilizassem seus afiliados para a defesa de seu futuro, já que o trabalhador de hoje é o aposentado de amanhã? Mesmo manifestando-se contra um ato do grande comandante, uma espécie de marcha sobre Brasília reintegraria as centrais em sua verdadeira função.

Desavença crescente

Começa a ganhar as colunas de jornal a desavença crescente entre o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Já não se falam, quando bissextamente se encontram. Estaria Mantega insatisfeito com os níveis de queda dos juros? Ou Meirelles preocupado com a ingerência do colega na discussão sobre o câmbio?

Dias atrás o presidente Lula surpreendeu ao comentar que o presidente do Banco Central irá com ele até o final do mandato, ou seja, uma espécie de confirmação a respeito da continuidade de Meirelles no futuro governo, se Dilma Rousseff for eleita. Nada de concorrer ao governo de Goiás, muito menos de tentar conquistar outra vez a cadeira de deputado na qual não sentou.

Quanto ao ministro da Fazenda, parece difícil que se aventure na política eleitoral. Assim como, também, que permaneça no futuro governo do PT, se ele existir.

4 comentários:

  1. A coluna de 15.03.2009 de Elio Gaspary, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, informa que Henrique Meirelles já estava demitido do Banco Central. Lula já havia convidado Luiz Gonzaga Belluzzo para o posto, convite que foi aceito. O grau de "investment grade" alcançado pelo país, naquele momento teria abortado a mudança.
    Tadeu Cordova Borges
    tcborges@tcborges.ecn.br

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  2. "Exageros injustificáveis"
    Não sei o que você andou lendo nos jornais por aí, para sair em defesa do Ribamar. Aliás, um direito que te assiste. Pelo mesmo direito que em assiste, afirmo: políticos como o Ribamar já deveriam estar HÁ MUITO TEMPO defenestrados da vida pública. Impedidos de ocupar cargos públicos. E mais. Querer agora justificar o nepotismo na esfera pública porque o mesmo existe nas empresas privadas, esta você vai me perdoar, mas foi dose pr'a mamute.
    Martim Berto Fuchs.

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  3. Creio que o respeitado jornalista Chagas incorre em gravíssimo erro ao sugerir que os neoliberais, o pessoal dito (antigamente..) de direita está por detrás da metralhadora de denúncias contra o Senado, visando destruir as instituições “deçepaiz”...
    Penso que quem está por detrás disso tudo é o mesmo pessoal que quer o terceiro, o quarto, o quinto, etc mandatos de Lulla, pois não querem perder a boquinha..., o mesmo pessoal que lutou(?) contra os militares, visando a derrubada da ditadura de direita, para implantar um ditadura de esquerda, além, é claro, de polpudas Bolsas-Ditadura, pois ninguém é de ferro.....

    Jarbas Marombão
    Rio de Janeiro

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  4. O Chagas conseguiu a proeza de criticar a CUT por ficar pendurada na máquina e defender o Sarney. O político que ficou milionário, apenas sendo político. Como?

    Marcos

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