segunda-feira, 15 de junho de 2009

Entre a consolidação e o imponderável

Carlos Chagas

Dilma Rousseff retoma, esta semana, a campanha presidencial, entoando seu samba de uma nota só, no caso, as excelências do PAC. Hoje é em Brasília, amanhã em Fortaleza, depois em Porto Velho. A vilegiatura tem dois objetivos: demonstrar que a candidata vai bem de saúde e não sofreu percalços depois da última sessão de quimioterapia e, em paralelo, recompor a imagem do esmaecido Programa de Aceleração do Crescimento, nos últimos dias sob críticas da mídia.

Mesmo dissociada da presença do presidente Lula, Dilma cumpre a missão de mostrar-se e de transmitir aos companheiros e aliados a evidência de que o pior já passou, em termos de saúde, mantendo e ampliando os espaços de sua candidatura. Merece elogios, por seu destemor, ainda que pareça cedo para saber se conseguirá transformar a imagem em votos. Há tempo para isso, dizem seus fiéis seguidores no PT, ainda que considerável segmento do partido prefira fazer como São Tomé, ou seja, ver primeiro para crer depois.

É de caso pensado que o presidente Lula afasta-se temporariamente da campanha da chefe da Casa Civil, procurando demonstrar que ela dispõe de vôo próprio, mesmo monitorada de modo permanente. Setembro parece o limite para se ter a noção de que a candidata decolou. Ou não. Se até lá continuar crescendo nas pesquisas, sem seqüelas ditadas pela doença que a acometeu, assistirá o PT e afins jogando todas as fichas no seu número consolidado. No reverso da medalha, não emplacando, virá o imponderável.

Precipitação

Há quem continue afirmando haver o presidente Lula se precipitado ao lançar o nome de Dilma Rousseff como sua candidata, tanto tempo antes da eleição, já que desde 2007 impôs sua preferência.

Como dizia nossa avó que o uso do cachimbo faz a boca torta, vem o PT e comete o mesmo erro, guardadas as proporções. Porque está marcada para dezembro a convenção nacional do partido que elegerá o novo diretório nacional e, com ele, o futuro presidente.

Discutir desde já quem comandará os companheiros é um risco. Primeiro por significar uma diminuição para o atual presidente, Ricardo Berzoini. Depois porque levantar nomes tão cedo assim equivale e despertar previamente os seus contrários.

Depois do afastamento de Gilberto Carvalho, de cuja colaboração no palácio do Planalto o presidente Lula não abre mão, emergiu José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás e hoje diretor de uma de suas subsidiárias. Foi o bastante para José Dirceu abrir fogo. O singular ex-chefe da Casa Civil, deputado cassado e réu no Supremo Tribunal Federal, no processo do mensalão, continua agitando as massas de companheiros. Viaja pelos estados, busca contactos com dirigentes do PT e de partidos aliados, é recebido por governadores e age como se fosse o coordenador maior da campanha de Dilma Rousseff. Ignora-se dispor o outrora subcomandante do país de mandato do comandante para atuar assim, mas é o que parece. José Eduardo Dutra que se cuide. Ficar seis meses na alça de mira de um livre-atirador costuma ser perigoso.

Exageros outra vez

Antes de viajar para Genebra, no fim de semana, o presidente Lula deu novamente asas ao exagero. Declarou, em Sergipe, que em um ano vai inaugurar dois terços do que foi feito em cem anos no país, em matéria de ensino público. Foi a milésima vez que se colocou acima dos antecessores. Tem dito haver realizado mais do que todos os presidentes da República e até do que D. Pedro II em quase cinqüenta anos de imperador. Convenhamos, um pouco de modéstia não faria mal ao companheiro-mór, que se é “o cara”, para Barack Obama, arrisca-se a ser chamado de “o cara-de-pau” pelo historiador do futuro. Já incomoda muita gente ter dito que o Brasil foi o último a entrar na crise econômica e o primeiro a sair dela. Depois vem os fatos, desmentindo as ilusões, e não haverá como nega-los...

Paulicéia desvairada

Ademar de Barros havia sido derrotado duas vezes na disputa pela presidência da República, em 1955 e em 1960. Ex-interventor e ex-governador de São Paulo, andava na baixa quando, em 1962, decidiu disputar outra vez o governo do estado. Surpreendeu todo mundo ao vencer Jânio Quadros, já ex-presidente da República que havia renunciado um ano antes.

Por que se recorda esse episódio inusitado da política paulista? Porque enquanto de fala das candidaturas de Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Antônio Palocci, Eduardo Suplicy e outros, quem garante que Paulo Maluf não poderá surpreender? Não dá para prever o que fará o eleitor, no mais forte estado da federação.

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