quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dá com a esquerda, tira com a direita

Carlos Chagas

A piada da semana, de mau gosto, não corre apenas por conta da Petrobrás, porque, afinal, a empresa obedece ordens do governo. E se não obedecer fica pior ainda. Entre evóes e alvíssaras, anunciaram a queda nos preços da gasolina. Uma redução da ordem de 4.5%. Só que com uma peculiaridade: a medida beneficia as refinarias mas ignora o consumidor, ou seja, não chegou nem chegará às bombas. É que ao mesmo tempo em que tomamos conhecimento da diminuição do preço do combustível, ficamos sabendo do aumento das alíquotas da CIDE, a tal contribuição que contribuímos a força. Com isso mais de dois bilhões e meio entrarão nos cofres públicos, ainda que nem um centavo possa permanecer em nossos bolsos.

Num país que não estivesse inebriado pela imagem do companheiro-mór essa iniciativa teria despertado reações variadas, inclusive protestos públicos. É verdade que diminuíram os preços do óleo diesel, ainda que 9.6 % para o consumidor e 15% para as refinarias. Favorecidos serão os transportes, mas quanto à gasolina, é certo que ao cidadão da classe média caberá pagar a conta, outra vez. A turma do bolsa-família não está nem aí, porque não possui carro, mas a pergunta que fica é se o governo não percebe estar cada vez mais empurrando ao classe média para a oposição. E olhem que além de votar, ela tem sido fato decisivo em todas as eleições.

Numa palavra, os detentores do poder dão com a mão esquerda mas tomam com a direita. Exatamente como estão fazendo com os juros. O Banco Central anunciou nova queda, a industria aplaude, enquanto o infeliz que vive usando o cartão de crédito e o cheque especial continua pagando horrores, porque os bancos, pelo jeito, não tomaram conhecimento da medida. É bom tomar cuidado.

A história se repete

Nos idos de 1964 o então presidente Castelo Branco dedicava à imprensa uma atenção especial, disposto a impedir a censura que parte de seu pano de fundo exigia. Não perdia a leitura de uma coluna política, telefonava aos autores, agradecendo elogios, assim como queixava-se amargamente das criticas. Naquele tempo não havia Internet, muito menos computadores satélites de comunicação, e o noticiário transmitido de Brasília para as sedes dos jornais, no Rio e São Paulo, trafegava pelo telex. Auxiliares do presidente, ávidos de prestar-lhe todo o tipo de serviços, mobilizaram o Serviço Nacional de Informações para municiá-lo com antecipações.

Carlos Castello Branco, mestre de todo nós, costumava escrever sua coluna pela manhã, que a sucursal do “Jornal do Brasil” enviava para a matriz antes do meio-dia, para publicação no dia seguinte. Não é preciso dizer que o texto ainda não divulgado circulava na véspera pelos gabinetes do palácio do Planalto.

Certa vez, o presidente irritou-se com as observações do jornalista, que apenas seriam publicadas no dia seguinte, e telefonou para o vice-líder do governo na Câmara, Ernani Sátiro, pedindo que se pronunciasse ainda naquela tarde, protestando contra a coluna futura. Castelinho riu da precipitação ridícula e o episódio mereceu criticas da imprensa inteira, ainda sem censura.

Pois é. Passados tantos anos, a Petrobrás repete a ânsia do primeiro general-presidente. Antes que entrevistas solicitadas sejam respondidas, já se apropria das perguntas e divulga suas versões antecipadas. Ridículo, hoje como ontem...

Fecha-se o círculo

Permanece a expectativa a respeito do veto parcial ou da sanção integral do presidente Lula à Medida Provisória 458, aquela que o Congresso desfigurou e tornou-se a alforria dos grileiros da Amazônia, capacitados a adquirir imensas glebas na região e a vendê-las em três anos, até para estrangeiros.

A impressão que se tem é de que a tática da internacionalização da Amazônia sofisticou-se. Não se imagina mais, se é que algum dia imaginou-se, a ocupação através de “marines” e sucedâneos. A transferência de muitas unidades do Exército para lá deve ter funcionado como alerta. O objetivo, porém, permanece o mesmo: transformar a floresta num imenso jardim botânico para os gringos passearem e, durante o passeio, terminarem de mapear as riquezas da flora e do subsolo, para posterior dominação física. Coisa que pode acontecer pela progressiva ampliação de reservas indígenas prontas para virar território de “nações” indígenas, capazes de ser reconhecidas por organismos internacionais. Numa palavra, o perigo continua, avançando através de diversos tentáculos, um dos quais,agora, é a MP 458, como há pouco foi a reserva Raposa-Serra do Sol. O círculo está se fechando.

Indefinições

Senão fechado para balanço, o ninho dos tucanos parece envolto num imenso nevoeiro. Tanto José Serra quanto Aécio Neves continuam pré-candidatos à presidência da República, rejeitando ambos a hipótese da composição da chamada chapa-pura, um para a cabeça, outro para vice.

O governador paulista gostaria de um candidato a vice de um partido aliado, de preferência do Nordeste. Não se afasta, no PSDB, a possibilidade de o senador Jarbas Vasconcelos vir a ser o escolhido, ainda que pertencente ao PMDB. Se o maior partido nacional não tiver candidato à presidência, deixando suas bases livres para posicionar-se como quiserem, ficará mais fácil conquistar o ex-governador de Pernambuco. Caso, porém, Michel Temer e seus comandados optem por Dilma Rousseff, Jarbas correria o risco de enfrentar problemas, a começar pela expulsão.

O governador mineiro, inferiorizado nas pesquisas, não teve tempo, ainda, de cogitar quem seria o seu vice, mas como o companheiro de São Paulo, olha para o Nordeste. E para o Norte, também.

Um comentário:

  1. Porque não publicou no seu artigo a real composição do preço final que o consumidor paga?
    Ficaria bem mais claro seu posicionamento.

    Marcos Lyra

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