Carlos Chagas
Ou o presidente Lula bota ordem no ministério ou logo será obrigado a demitir a metade dos ministros, se quiser preservar sua autoridade. Porque, a cada dia que passa, mais o governo parece uma federação de discordâncias. Em linguagem popular, um saco de gatos.
Carlos Minc, do Meio Ambiente, denuncia Reinhold Stephanes, da Agricultura, como agente do agro-negócio. Também avança sobre Alfredo Nascimento, dos Transportes, insurgindo-se contra o asfaltamento da rodovia Manaus-Porto Velho. Henrique Meirelles, do Banco Central, desmente Guido Mantega, da Fazenda, no diagnóstico da crise econômica. Tarso Genro, da Justiça, desentende-se com Nelson Jobim, da Defesa. Paulo Bernardo, do Planejamento, briga com Fernando Haddad, da Educação, na hora de contingenciar verbas orçamentárias. Até Dilma Rousseff, todo-poderosa, não raro se vê obrigada a ceder espaço para a equipe econômica. E vai por aí.
Está na hora de o comandante enquadrar o pelotão. Para isso, precisaria tomar uma série de decisões que vem protelando. Composição não significa distanciamento.
Dos 36 ministros, pelo menos 18 serão candidatos às eleições do ano que vem. Deverão desincompatibilizar-se até 31 de março. Ouve-se nos corredores do Planalto que em maioria serão substituídos pelos secretários-gerais, uma espécie de meia-sola que enfraqueceria o período final de governo. Isso, é claro, se não forem prorrogados os mandatos. Há quem aconselhe o presidente a antecipar-se, promovendo no início do segundo semestre ampla reformulação ministerial, escolhendo para cada vaga os melhores nomes disponíveis na sociedade, à margem dos políticos que disputarão as eleições.
Alta exposição
Não se espantou com a alta exposição da ministra Dilma Rousseff quem assistiu o programa de propaganda gratuita do PT, quinta-feira, em rede nacional de televisão. Desenvolve-se o “Plano A”, ou seja, a candidatura da chefe da Casa Civil à sucessão presidencial, determinada pelo Lula. De agora até setembro, mesmo diante das limitações impostas pela doença, mais Dilma terá sua imagem difundida pelo país. Parece promissor o crescimento de seu nome nas pesquisas, já chegando aos 18%, não obstante José Serra dispor de mais do dobro. Apesar disso, o “Plano B” continua em marcha. Seria a continuação do Lula no poder, já que entregar o governo aos tucanos está fora da cogitação dos companheiros. A apresentação da proposta de emenda constitucional permitindo o terceiro mandato envolve manobra sutil, a cristalizar-se oportunamente. Caso fique patente que o Senado rejeitará nova eleição para o presidente, uma emenda ao texto poderia trocá-la pela prorrogação de todos os mandatos, muito mais palatável, aproveitando-se a tramitação já então avançada. Tudo, porém, na dependência da decolagem da candidata. Setembro é o mês.
Reação exagerada
Foi exagerada a reação do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, diante da possibilidade de a CPI da Petrobrás estender suas investigações ao período de governo de Fernando Henrique Cardoso. O senador chamou de “conversa de sem-vergonha” o alerta feito pelo governista João Pedro. Na realidade, nenhuma CPI pode ser limitada no tempo, valendo para a oposição o mesmo mote que ela acaba de lançar sobre a administração atual: quem não deve, não teme. Indaga-se se o governo Lula tem algo a esconder, por conta do paroxismo com que recebeu a constituição da CPI da Petrobrás. Aconteceria o mesmo com o passado governo Fernando Henrique Cardoso?
Vão fazer o quê?
O presidente Lula antecipou o debate sucessório ao lançar a candidatura de Dilma Rousseff. Logo mobilizaram-se José Serra e Aécio Neves. Há quem preveja o PMDB apresentando candidato próprio.
O problema é que ninguém, até agora, disse o que pretende, caso eleito. Quais as intenções de Dilma? Seria apenas repetir a administração do Lula? E as linhas básicas do governo Serra, alguém conhece? Aécio revelou alguma diretriz fundamental?
Parece injustiça supor que os candidatos se apresentam apenas por conta de suas imagens pessoais, mas seria bom para o esclarecimento do eleitorado se desde já definissem metas, mesmo genéricas. Caso contrário muita gente acabará se posicionando apenas em função da simpatia despertada pelos candidatos. Não se pede um detalhado plano de governo de cada um, coisa que deve ficar para daqui a um ano. Mas pelo menos revelar o que pretendem, já está na hora.
sábado, 30 de maio de 2009
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