terça-feira, 9 de junho de 2009

Nem a pau, seu Juvenal

Carlos Chagas

De vez em quando certos grupos políticos dentro dos partidos, ou até partidos inteiros, lançam-se em aventuras sem a menor lógica. Bissextamente, dão certo, mas na imensa maioria das vezes, frustram-se e quebram a cara.

Uma dessas situações apareceu recentemente, quando alguns dirigentes do PT e outros do Partido Socialista aventaram a hipótese de Ciro Gomes candidatar-se ao governo de São Paulo. Menos por ele haver nascido em Pindamonhangaba, mais porque poderia unir as forças governistas do PT, PMDB e penduricalhos no estado. Poderia? Dificilmente. Agora, seria eleito? “Nem a pau, seu Juvenal”, diria e velhinha do presunto.

Ciro dispõe de todas as condições para concorrer à presidência da República, que já disputou duas vezes. Especialmente se Dilma Rousseff for impedida por fatores diversos, dos eleitorais aos de saúde, e se o presidente Lula mantiver comentário feito há um ano, de que o candidato à sua sucessão não precisaria sair necessariamente do PT, mas de algum partido aliado.

Imaginar, no entanto, que o eleitorado paulista elegeria Ciro é mais ou menos como esperar que o Sargento Garcia vá prender o Zorro no próximo episódio da televisão.

A sucessão em São Paulo continua indefinida, talvez como em nenhum outro lugar. Do lado dos tucanos, posicionam-se Geraldo Alckmin e Aloysio Nunes Ferreira, mas sem qualquer garantia de apoio de José Serra. Já os companheiros aguardam o julgamento de Antônio Palocci no Supremo Tribunal Federal, sem esquecer Eduardo e Martha Suplicy. O PMDB, comandado por Orestes Quércia, prepara-se para apoiar quem dispuser de melhores chances, admitindo-se que Paulo Maluf não perca uma nova oportunidade de competir.

Ciro Gomes seria um estranho no ninho, em meio à confusão.

Couro do jacaré

Não é de uns dias para cá. A blitz dura dois anos, desde que Renan Calheiros precisou renunciar à presidência do Senado, por razões de ordem pessoal. Vale constatar que enfrentou o diabo, naqueles idos, sofrendo calado mas sem perder a capacidade de atuar politicamente. O tempo passou, mas seus adversários não deram trégua, acolitados por boa parte da imprensa.

Mesmo assim, Renan foi peça fundamental na eleição de José Sarney para a presidência do Senado e credenciou-se, ainda que com certas resistências, para líder da maior bancada na casa, do PMDB. Apesar de o senador Pedro Simon reclamar sempre que os senadores de seu partido jamais foram reunidos para qualquer deliberação, Renan controla a maioria, como ainda agora se viu no episódio da formação da CPI da Petrobrás. E mantém uma atitude de independência diante do palácio do Planalto. Luta pela preservação e até pela conquista de mais espaço para o PMDB no governo, atitude que lhe tem valido acusações, ainda que quase toda a bancada de senadores peemedebistas respalde suas iniciativas. E a direção nacional, também.

Em suma, de vez em quando é bom olhar o outro lado das coisas para se ter a noção de que, em política, nem tudo são idéias pré-concebidas ou pratos feitos. Renan tem couro de jacaré.

Preocupações petistas

Nem só a sucessão presidencial vem tirando o sono dos companheiros. Até setembro estará o PT em expectativa por conta das condições da candidata Dilma Rousseff, tanto em sua luta contra a doença quanto diante de suas reais possibilidades eleitorais. Haverá que esperar, claro que dando às suas bases a impressão de estar tudo bem, pois Dilma até cresceu nas mais recentes pesquisas.

O problema é que as dificuldades se ampliam. Será boa estratégia para o PT ceder ao PMDB candidaturas de governador em estados importantes, onde seus candidatos teriam condições de eleger-se? Abrir mão antecipadamente de estados que poderia controlar, como Minas, Rio de Janeiro e outros?

Mas tem mais. Tão importante quanto eleger o sucessor do Lula, ou até o próprio, outra vez, se Dilma não decolar, será ampliar suas bancadas no Congresso. Em especial no Senado, onde o governo vem enfrentando surpresas desagradáveis. Como puxar uma chapa de candidatos a senador e a deputado, porém, sem candidatos a governador?

De novo a reforma do ministério

O presidente Lula continua assediado por conselheiros palacianos a promover no começo do segundo semestre a reforma ministerial de que só precisaria cuidar em março do ano que vem. Pelo menos quinze ministros serão candidatos nas eleições gerais de 2010, devendo obrigatoriamente desincompatibilizar-se a 31 de março. Isso, é claro, se a lei não for mudada.

Deixar para tão longe a recomposição do ministério equivaleria, para o presidente, a seguir com uma espécie de meia-sola administrativa até o final de seu mandato. Na maior parte dos casos, nomearia os secretários para continuarem administrando as pastas, sem maiores impactos ou novidades marcando a fase final de seu governo. A alternativa seria promover logo a substituição dos ministros-candidatos, nomeando para suas vagas políticos que não disputarão as próximas eleições ou até figuras representativas de cada setor, encontráveis na sociedade civil.

O presidente hesita, seja para não deixar ao sol e ao sereno, antes do tempo, ministros que lhe são leais, seja porque sua natureza parece infensa a mudanças.

2 comentários:

  1. CARO CARLOS
    Conheço o seguro articulista RENAN CALHEIROS,
    e couro de jacare é pouco p/ o q ele suportou e soporta.
    abs,
    CAETANO SOARES PINTO

    ResponderExcluir
  2. Afinal, quando é que a Tribuna impressa volta a circular nas bancas?

    ResponderExcluir