quinta-feira, 18 de junho de 2009

Lula em cima do muro

Carlos Chagas

Lá do Casaquistão, onde se encontrava ontem, o presidente Lula resolveu meter a colher no caldeirão do Senado. Criticou o que chamou de “denuncismo” verificado no Congresso e no Brasil, com a ressalva de que tudo se denuncia e nada se pune. Como de outras vezes, o companheiro-mór ficou em cima do muro, ou, se quiserem, com um pé em cada margem do rio. Porque, de um lado, as denúncias de corrupção parecem exageradas, para ele. Mas, de outro, não geram punições.

O presidente Lula elogiou o senador José Sarney, lembrando sua performance no palácio do Planalto, na segunda metade da década de oitenta, abrindo também razoável dúvida capaz de ser aplicada nos escândalos do mensalão, dos aloprados, dos cartões corporativos e outros acontecidos no seu governo. Porque até agora, ninguém foi punido.

Quanto mais se mexe...

O grave na crise do Senado não foi José Sarney haver dividido seu ônus com a instituição. Nesse particular até teve razão, porque as lambanças vem de muitos anos e ele está apenas há cinco meses na presidência da casa, desta vez. Estranha, mesmo, foi a reação dos funcionários, através de sua representação sindical: resistem à divulgação de seus vencimentos, incluídas vantagens, alegando o direito constitucional da privacidade. Ora, se recebem dos cofres públicos, o público tem direito de saber como e porque. Irregularidades seriam conhecidas, como a de servidores do Senado ganharem mais do que o teto estabelecido em lei para os ministros do Supremo Tribunal Federal? Acúmulos de aposentadorias com recontratações? Famílias inteiras identificadas pelo sobrenome, quando divulgada a lista?

Quanto mais se mexe, mais fede essa nova trapalhada institucional, apesar da precipitação com que certas notícias são divulgadas sem a devida comprovação. Tem saída? Tem, se a mesa do Senado promover ampla devassa nas estruturas da casa e, em paralelo, se agilizar a votação de projetos de real interesse nacional.

Um velho assunto novo

O “seu” Manoel, dono do açougue ali da esquina, é um craque na arte de cortar carne. Tira cada costela e cada filé que nos deixam com água na boca. Por conta disso, deve ser autorizado a trocar o avental pelo jaleco, entrar no Hospital Distrital e operar alguém de apendicite?

O camelô da Estação Rodoviária é um mestre da palavra. Vende tudo em sua bancada por convencer os transeuntes. Poderia vestir uma beca e defender oralmente alguma causa, no Supremo Tribunal Federal?

Muitos ingênuos e alguns malandros insurgem-se contra o diploma para jornalista alegando não poder ser cerceado quem nasce com o dom de escrever.

Ora, o dom de escrever faz o escritor, que pode colaborar com qualquer jornal na qualidade de colaborador. Mas ser jornalista, com toda a humildade, exige mais do que saber escrever. Editar, diagramar, selecionar o que é notícia, além de dispor de conhecimentos de História, Política, Economia, Geografia, Filosofia, Ética, Sociologia e quanta coisa a mais que só se aprende ordenadamente nos bancos universitários?

Os maiores inimigos do diploma para jornalista são os patrões e seus acólitos, com um medo pavoroso de que a categoria continue a chegar organizada nas redações, com diploma obrigatório, passando a reivindicar mais ética, mais honestidade na reportagem e melhores salários. Filhinhos, amiguinhos e pimpolhos, só com diploma, coisa que os inviabiliza.

PT E PMDB continuam sem entender-se

Boa coisa não virá do choque entre PT e PMDB, na busca de selecionar candidatos comuns aos governos estaduais e aos dois terços do Senado que serão renovados em 2010. Vai ficando cada dia mais claro que o presidente Lula não conseguirá conter seus companheiros, quando exige deles sacrificar pretensões em diversos estados, em nome da aliança maior em torno da candidatura de Dilma Rousseff. Recém-chegado da Ásia e da Europa, o chefe do governo pretende reunir líderes nacionais e regionais dos dois partidos, um estado de cada vez, para tentar composições. O problema é que o PT começa a sentir que fará papel de vítima na maioria dos casos. É a sua sobrevivência como grande partido que está em jogo. Se pelo menos o PMDB abrisse mão de algumas cabeças de chapa, ainda seria possível a conciliação, mas os peemedebistas parecem intransigentes, pelo menos nos nove estados onde já dispõem de governadores.

4 comentários:

  1. A notícia da não exigência de diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista deveria causar indignação ao país. Absurdo sem tamanho. Como bem colocou o jornalista Carlos Chagas, seria como permitir o exercício de qualquer profissão por qualquer um, apenas pela demonstração de um talento inato. Isso me parece mais uma tentativa de calar a boca dos profissionais responsáveis que não se submetem ao sistema, colocando em seu lugar miquinhos amestrados que só publicam e divulgam aquilo que interessa aos donos do poder.

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  2. Os jornalistas corrompidos é que são responsáveis pela baixa qualidade dos jornais. Ao abaixarem a cabeça e aceitarem as chamadas "linhas editoriais", abriram precedente para instaurar-se a brecha que faltava: hoje, qualquer um escreve o que o dono do jornal mandar, sendo jornalista ou não.

    A ética foi para o ralo e com ela a necessidade de diploma.

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  3. Ainda estou dividido sobre a exigência do diploma para os jornalistas, assim como para o exercício de qualquer profissão, na verdade. Provavelmente a exigência do diploma facilitar a organização dos profissionais contra os abusos dos patrões, mas nesse caso, a exigência da participação em uma organização profissional teria o mesmo, senão melhor, efeito. Essa idéia de dar autoridade ao governo de ditar quem tem o direito de exercer cada profissão é muito controversa e, embora vista como verdade absoluta, é um experimento social relativamente recente. E controverso.

    Concordo também sobre todos os conhecimentos que se PODE aprender nas Universidades, mas defendo que a maior parte dos estudantes de jornalismo aprendem muito pouco de História, filosofia, sociologia nos bancos das UFES... aliás, se a lei é essa, o jornalista diplomado em jornalismo não terá direito de falar sobre nenhuma dessas áreas do conhecimento, pois não tem diploma em história, filosofia ou sociologia. O lado bom disso é que alguns jornalistas metidos a economistas vão precisar reavaliar seu direito de fazer análises econômicas... ainda, defendo que muitos vendedores de rodoviária fariam melhor serviço que alguns de nossos representantes no judiciário. Lembremo-nos, por exemplo, que Sérgio Naia era engenheiro, os "deuses de Wall Street" são economistas, ou engenheiros financeiros. Infelizmente, Ética não é parte da grade curricular, nem do curso superior de jornalismo, nem engenharia, nem economia.

    E o diploma de político? Talvez devesse ser o próximo a ser exigido. Mas acho que ética não seria parte da grade curricular desse também.

    Novamente, não estou convencido de que a exigência do diploma de jornalista seja boa ou ruim, embore eu soe negativo aqui. Acho que gostaria de ver essa discussão como o início de uma mudança na direção da valorização da competência acima da titulação, mas este pode não ser o melhor momento.

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  4. Das duas, uma: ou o Presidente tomou um p/causa do frio, ou falou cazaquistanês e foi mal interpretado...

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