quinta-feira, 18 de junho de 2009

Captação da poupança sobe: a dos fundos desce

Pedro Coutto

Na edição da Folha de São Paulo de 17 de junho, com base em dados do Banco Central, o repórter Toni Sciarreta revelou que a captação das cadernetas de poupança nos primeiros dias deste mês atingiu saldo de 2 bilhões de reais, praticamente vinte vezes mais do que aquele que vinham registrando mensalmente até maio.

Um fenômeno explica o processo: com a redução da Selic de 10,25% ao ano para 9,25, as aplicações nas contas podem perder para a inflação do IBGE. Dependendo das taxas de administração cobradas pelos bancos, claro os de primeira linha, porque os de segunda não oferecem garantia, as correções mensais dos fundos podem perder para a inflação. Ou seja: somadas mensalmente, menores do que 6% ao ano. A tendência inevitável para os aplicadores mais profissionalizados é procurar o melhor rendimento.

É natural. O mesmo está se passando com os titulares das contas do FGTS, no caso os que têm mais de 70 anos de idade, e por isso, pela lei, podem movimentá-las livremente. Para se ter uma idéia, a correção aplicada aos saldos do FGTS em março foi de apenas 0,29%. Ficou abaixo do índice inflacionário. A diferença, neste caso, ficou com a caixa Econômica Federal, segunda agência financeira do governo.

No caso dos fundos de investimentos, na maior parte lastreados pelos títulos públicos, os saques não se transferem de bancos, propriamente, mas se transferem de conta. Deixam o universo de giro da dívida interna e vão para as cadernetas. Para os bancos, o movimento não muda muito. Os juros que cobram dos clientes permanecem em média dez vezes maiores que os índices inflacionários. Mas, a médio prazo, muda para o governo. Por quê?

Simplesmente porque as cadernetas não lastreiam e o endividamento interno, hoje na casa de 1 trilhão e 260 bilhões no mercado mobiliário, como está publicado no mais recente relatório do Tribunal de Contas. Assim, se os papéis do Tesouro e do Banco Central não oferecerem atrativo maior do que o fornecido pela poupança, o governo terá que enxugar títulos no mercado. A operação não é tão fácil. Não é fácil porque em termo de um terço da dívida interna encontra-se nas mãos de bancos estrangeiros que intermediam aplicações vindas de fora. Assim, se os títulos não derrotarem a taxa inflacionária por margem ampla, cairá a entrada de dólares no país, inclusive com reflexos na Bolsa de Valores de São Paulo. Os investidores internacionais que encontram no Brasil uma rentabilidade singular no cenário mundial geralmente dividem seus investimentos financeiros entre fundos de renda praticamente fixa e os fundos multimercados também envolvem aplicações em Bolsa, consideradas de risco, no universo acionário. É o tal negócio, como digo sempre: em matéria de números toda análise correta e descompromissada exige pelo menos mais de uma leitura.

Não existe, na lei da física, ação sem reação. Mas tratando-se de dinheiro e bens, não existem ações sem reações, para colocar uma dose de ironia no caminho da busca da verdade. |Por isso, diminuir a taxa Selic pode representar uma redução nos encargos governamentais. Claro. A parcela de 1% ao ano significa aparentemente, numa primeira visão, uma economia de 12,6 bilhões de reais em doze meses. Resultado da incidência de 1% sobre 1 trilhão e 260 bilhões de reais, estoque da dívida interna exposto à oscilação para menos da Selic. Mas o problema termina aí? Não. Seria simples demais. Aparece em seguida toda uma relação de causa e efeito. A causa aqui está. E os efeitos? Vamos esperar por eles com mais calma.

2 comentários:

  1. Amor, dinheiro e lua, parando de crescer começam logo a diminuir.
    ( Stanislaw Ponte Preta )

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  2. Quando Papai do Céu nos fez antípodas dos japonezes, sabia o que estava fazendo. O japonês começa imitando, equipara-se, aperfeiçoa e supera. O brasileiro começa imitando, acha que pode aperfeiçoar, esculhamba e destroi. Foi o que aconeceu com as cadernetas de poupança, como acontece com tudo o que se copiou neste país. Não devemos esquecer que as CPs foram criadas para financiuar o Plano Nacional de Habitação. G. Ulrich

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