segunda-feira, 8 de junho de 2009

INACREDITÁVEL E RIGOROSAMENTE VERDADEIRO

Tribuna sofreu implacável e diária censura entre 1968 e 1979.
Processo de indenização está completando 30 ANOS.


Desde que este blog/site foi lançado, há quase um mês, dezenas de leitores me repetem a mesma pergunta que também recebo diariamente por telefone e cartas: "Quando o jornal vai voltar a circular?"

Com muita tristeza, admito, não sei. De fato, a Suprema Corte confirmou as decisões das instâncias inferiores e mandou a União indenizar a Tribuna. Isso já faz três meses. Por incrível que pareça, desolado, não posso assegurar quando retornaremos às bancas, pois o processo de execução, de cobrança dos valores, por incrível que pareça, nem se iniciou. Tem advogado que tão logo ganha em primeira e segunda instâncias, dá início à ação de execução. Isso não se verificou no nosso caso e se ocorreu, pode ser, não deu resultado ainda.

Aliás, foi no dia 28 de junho de 1979 que a Tribuna outorgou procuração para que os advogados Raphael de Almeida Magalhães e Sérgio Bermudes processassem a União por conta de implacável e desestabilizadora censura diária, que se prolongou por mais de dez anos. Isso se deu, portanto, HÁ TRINTA ANOS. Inacreditável e RIGOROSAMENTE VERDADEIRO. Tal fato e tal data devem envergonhar o nosso país. Justiça tardia é injustiça manifesta e qualificada, como escreveu Ruy Barbosa.

Já não sei a quem recorrer para receber a indenização, pagar as contas e devolver a Tribuna ao povo. Sem dúvida, de todos os jornais censurados, a Tribuna foi o que sofreu a mais severa e truculenta perseguição de censores ignorantes e atrabiliários, que, inclusive, denunciavam à Receita Federal e aos militares os nomes de empresas que ousavam nela anunciar. A ordem era uma só: sufocar e inviabilizar a Tribuna. Fui obrigado a conviver, diariamente, com esses serviçais da ditadura por mais de 10 anos, que canibalizaram e violentaram todas as edições, entre 1968 e 1979.
Dia 28 de junho, deve ser um dia de luto para a Tribuna, para os seus intrépidos colaboradores, para os operadores do direito e para a sociedade brasileira, por conta da ineficácia e da inocuidade de decisões judiciais transitadas em julgado e que não são respeitadas nem pelas autoridades constituídas, que até pensam em institucionalizar o calote, ou seja, o direito de não pagar as dívidas públicas.

Estou de luto e decepcionado com os políticos-administradores de nossas instituições, depois de por elas ter lutado por mais de 65 anos. Não poucas vezes, pondo em risco minha vida e a de meus familiares. Tudo por uma boa causa. Desculpem-me o desabafo. Não sei quando a Tribuna voltará às bancas. Certamente, isso, ocorrerá somente depois que os meus advogados conseguirem promover a execução da dívida da União, o que, espero, não deverá demorar mais algumas décadas. Em 1979, a ditadura e a perseguição militar ainda imperavam em nosso país. Basta a gente se lembrar da explosão do prédio da Tribuna em 1981 e do atentado no Rio Centro, que, por milagre, não se transformou numa carnificina inimaginável.

Outro dia, o jovem advogado geral da União, José Toffoli, declarou que não interessa à União protelar por mais tempo discussões acerca de indenizações com decisões judiciais transitadas em julgado. Essa protelação sem sentido é nociva ao erário público. É o caso da Varig e da nossa Tribuna.

2 comentários:

  1. A "parte", essa figura singular.


    "Já não sei a quem recorrer para receber a indenização, pagar as contas e devolver a Tribuna ao povo."

    Velhos tempos em que ler Kafka causava um certo mal estar que se resolvia numa mesa de bar, diluído entre destilados e águas minerais.

    A frase é kafkaniana, o enredo é surripiado de algum capítulo esquecido em alguma estante empoeirada.

    E esse personagem nebuloso, um verdadeiro estorvo para os ditos operadores do direito, que atende pelo epíteto de "parte" reluta em sucumbir na vida como sucumbiu nos procedimentos ditos processuais.

    Resta, talvez, transformar esse espaço comue Kafaka jamais sonhou, em algo parecido como o último forte apache.

    Resista!

    Afinal nada mais estridente do que a voz solitária que entoa: o Rei está nu!!!

    Mesmo que esse rei esteja coberto de togas e cerimônias.

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  2. Concordo com sua afirmação:
    "Estou de luto e decepcionado com os políticos-administradores de nossas instituições..."
    Infelizmente nossos três Poderes estão se degladiando, o Judiciário: sufocando-se em meio a tantos processos e recursos, o Legislativo: afundando cada vez mais na própria ganância e esquecendo que estão lá para servir ao povo que os elegeu, e o Executivo: o maior devedor dos processos em execução no Judiciário (motivo por tanta sede na lei do calote...), além dos inúmeros problemas que causam com suas normas que contrariam leis e a própria Constituição...
    Lutar e perseverar, sempre!!!
    Aproveito para convidá-lo a conhecer meu espaço de desabafo e debate: http://sabrinanoureddine.blogspot.com
    Abs solidários.

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