sexta-feira, 5 de junho de 2009

Guerra é guerra

Carlos Chagas

Com todo o respeito, mas na guerra vale tudo. Não há comandante que não preveja todo o tipo de dificuldades para sua tropa, apesar de todos dispostos à vitória, custe o que custar. Contra o inimigo vale tudo, seja para conquistar terreno adversário, seja para manter as próprias posições.

O presidente Lula está sendo sincero quando afirma não haver e não desejar o terceiro mandato. Lançou Dilma Rousseff esperando transferir-lhe sua popularidade e preservar o poder para o exército de companheiros postados a seu lado. Como é fatal em todos os confrontos, os oponentes sempre surgem do lado que menos se espera. Sobreveio a doença da candidata, intranqüilizando suas hostes.

Só que os grandes generais ensinam ser a melhor estratégia de todas tirar proveito das dificuldades.

Assim, repetindo estarmos comentando com todo o respeito, eis o cenário delineado à frente do Lula: caso até setembro aumentem os percentuais da chefe da Casa Civil nas pesquisas eleitorais, e se a doença não retornar, a progressão continuará como planejada, na tentativa de levá-la à presidência da República. Na hipótese, porém, de Dilma não decolar eleitoralmente, as forças do governo poderão adotar manobra diversionista. Mesmo se o câncer estiver extirpado, quem garante que não servirá de pretexto para o afastamento, com honra, da candidata até então definida?

Seria hora da utilização das grandes reservas postas em alerta, sob o comando pessoal do próprio general em chefe. Traduzindo: para vencer a guerra, por que não o terceiro mandato ou, mais sutilmente, a prorrogação de todos os mandatos por dois anos? Isso com a mobilização dos aliados, a começar pelo Supremo Tribunal Federal, pela ampliação de 70 para 75 anos do prazo para as aposentadorias compulsórias, cujo projeto já se encontra pronto para ser aprovado. Da mesma forma, o uso de alguma sutileza ligada à fidelidade partidária, permitindo mudanças na lei eleitoral mesmo depois de vencido o prazo de um ano anterior às eleições, para garantir sua validade imediata. E mais a inevitável emenda constitucional também a ser aprovada pelo Congresso: o golpe de graça, estabelecendo a prorrogação ou até o terceiro mandato.

Em suma, trata-se de um confronto onde o resultado final parece inevitável. As panzers entrarão em Paris. Depois, para os otimistas, será aguardar a resistência, o desembarque na Normandia e a avalancha do Exército Vermelho. Mas como este não existe mais e a História só se repete como farsa, o remédio será aceitar a voz das armas e das urnas. Lamentando, é claro, a transformação de Dilma Rousseff numa heróica e sacrificada Polônia da ficção.

A voz no deserto

Não se entrega o senador Pedro Simon. Para ele, as bases do PMDB clamam por uma candidatura própria, sendo o partido que possui mais vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores em todo o país.

Conforme o solitário guerreiro, trata-se de uma força imbatível, mesmo sabotada pela cúpula que hoje domina o PMDB, interessada em preservar espaços de poder a qualquer custo, dividindo-se no apoio a José Serra e a Dilma Rousseff.

Ainda é tempo de dobrar o fisiologismo e insistir no lançamento de um de seus líderes: Roberto Requião ou Sergio Cabral teriam condições de virar o jogo. O problema é que se um deles conseguisse conquistar a presidência da República, não haveria lugar para a cúpula peemedebista em seus governos. Por isso Michel Temer e seus seguidores preferem Serra ou Dilma, garantia de que continuarão onde sempre estiveram, ou seja, na mesa do banquete.

O próprio Simon assinala que seu tempo passou. Poderia ter sido candidato em eleições anteriores. Hoje, como integrante de outra geração, afasta seu nome, mas, nem por isso, recua da necessidade de o PMDB voltar a ser a alma nacional.

Um comentário:

  1. Seu desejo ardente de ver o terceiro mandato nao se realizara, nobre jornalista.

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