Carlos Chagas
Não raro o ridículo supera a derrota. Certas instituições, grupos, partidos, clubes ou sucedâneos, depois de uma peleja, saem mais desmoralizados do que vencidos quando, ao invés de lutarem até o fim, preferiram entregar-se ao adversário. Assim acontece desde a primeira eleição do Lula com as centrais sindicais. Em vez de resistir e dar suporte às propostas e postulados pelos quais empenharam-se desde que criados, cederam ao recuo do candidato de seus sonhos, apoiando o pesadelo que foi a adesão do Lula ao neoliberalismo e às imposições dos gestores da política econômica anterior. O Lula ganhou a presidência da República, em 2002, mas assumiu rendido e derrotado através da “Carta aos Brasileiros”, quando comprometeu-se a não mudar nada do que vinham impondo Fernando Henrique Cardoso e sua quadrilha. Aderiu e, embora inovando com o assistencialismo do bolsa-família, integrou-se no modelo elitista dominado pelo mercado.
Esperava-se que a CUT, a Central Sindical e outros penduricalhos formassem na trincheira da resistência. Afinal, eles é que deram suporte à candidatura do PT. Durante anos lideraram a batalha contra a supressão e o restabelecimento dos direitos sociais, pela preservação dos monopólios estatais e a soberania nacional. Poderiam ter levado o governo dos trabalhadores a permanecer sustentando os postulados que o levaram à vitória nas urnas.
Por fatores que o fisiologismo explica tanto quanto a fraqueza das convicções, as centrais sindicais encolheram-se. Deixaram de reagir aos avanços das elites financeiras e até deram apoio ao recuo do Lula. Sumiram das ruas as passeatas, as greves, as contestações. Os dirigentes sindicais que discordaram viram-se afastados, uma equipe de sabujos passou a controlar as instituições e o sindicalismo brasileiro ganhou as profundezas. Desapareceram os movimentos em favor de melhores condições de vida, da defesa dos aposentados, dos assalariados que não fossem metalúrgicos e das grandes bandeiras nacionais então ensarilhadas.
Um plebiscito inviável
Numa época em que se fala tanto em plebiscitos e referendos, todos ligados à permanência do presidente Lula no poder, vale à pena brincar com fogo. Caso algum deputado ou senador apresentasse proposta para saber se o povo quer a pena de morte para autores de crimes hediondos, qual seria a resposta?
Sem a menor dúvida, positiva. Ninguém agüenta mais a insegurança pública, agravada nos últimos meses pelo desemprego em massa. Os jornais publicam todos os dias atos execráveis de latrocínio, seqüestros seguidos de morte, abusos sexuais contra crianças e sucedâneos.
Dói levantar o assunto. A vida, afinal, é um dom que vem de Deus. Torna-se impossível aceitar que a lei dos homens chegue ao limite da pena de morte, mas, infelizmente, é esse o sentimento nacional. Não adianta dizer que o brasileiro é pacífico, tolerante, infenso à violência, porque a violência tornou-se realidade habitual no dia-a-dia de todos nós.
Tomara que esse plebiscito jamais venha a realizar-se, porque do resultado, sabemos todos. Valeria à pena saber da opinião nacional sobre a prisão perpétua. Seria a mesma. Apenas com o agravante de caber ao poder público sustentar animais pelo resto de sua existência. Mas seria uma solução, se a contrapartida fosse um pouco de tranqüilidade para todos nós. Claro que sem as filigranas da lei que permitem aos autores dos mais execráveis crimes ganharem a liberdade em pouco tempo.
E agora, Obama?
Anunciam as agências de notícias haver a Coréia do Norte explodido sua primeira bomba atômica, ainda que subterrânea. Reuniu-se o Conselho de Segurança das Nações Unidas, enquanto o presidente Barack Obama disse estar a paz em perigo em todos os continentes. Pode até ser, mas a pergunta que se faz é porque a Coréia do Norte não pode enquanto os Estados Unidos, a Rússia, a China, Inglaterra, França, Índia, Paquistão e até Israel podem. Brevemente, o Irã também.
Fazer o quê, se tem sido de mentirinha sucessivos acordos internacionais de desarmamento? Cada um dos países referidos dispõe para destruir não apenas seus vizinhos, mas o mundo inteiro. Mostra a experiência de milênios que os prenúncios de conflitos sempre deságuam nos próprios, ou seja, nos conflitos.
No clássico dos anos cinqüenta, “O Dia em que a Terra Parou”, não no arremedo filmado há pouco, assiste-se à chegada de um alienígena com ordens para destruir o planeta caso os dirigentes de todas as nações não interrompam e destruam seus artefatos nucleares. O fim do filme é inconcluso, apesar de otimista, como acontece no reino da fantasia. E agora, no império dos pesadelos. Trata-se do mais novo degrau descido no rumo das profundezas, menos porque os coreanos do Norte adquiriram um poder adicional, mais porque os integrantes do clube nuclear não admitem novas inscrições. Quem pode, avança no caminho do despenhadeiro. Japão, Alemanha, Itália, Canadá e quantas nações a mais tem capacidade de em quinze minutos armarem suas bombas? A teoria do tal poder dissuasório é precaríssima, tendo em vista que um dia, antes que se preveja, um doido ou um desesperado qualquer apertará o botão. Só nos resta aguardar, mesmo sabendo que a América do Sul continua imune à loucura.
Longe de um entendimento
PMDB e PT estão longe de um entendimento a respeito das eleições de governador. É bobagem criticar apenas um desses partidos por falta de colaboração, porque nenhum dos dois mostra-se disposto a ceder às necessidades da preservação da precária aliança que os une. O resultado será a implosão maior, ou seja, a impossibilidade de companheiros e peemedebistas se acertarem em torno da sucessão presidencial. Em especial depois da doença de Dilma Rousseff, que já vinha antes sendo abandonada. O PMDB ameaça com apoio a José Serra mas analisa a hipótese do lançamento de um candidato próprio, onde desponta o nome do governador do Paraná, Roberto Requião.
Cada vez fica mais claro que para preservar a aliança, e com ela o poder, só com a permanência do presidente Lula no governo, seja com o terceiro mandato, seja com a prorrogação de todos os mandatos, fórmula que agradaria até o tucanos. Apesar de constituir-se num retrocesso igual ao que foi praticado por Fernando Henrique Cardoso. Como ninguém protestou daquela vez, protestarão agora?
terça-feira, 26 de maio de 2009
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"Só nos resta aguardar, mesmo sabendo que a América do Sul continua imune à loucura."
ResponderExcluirDa bomba atômica estamos livres sim, por enquanto.
Mestre Hélio. Continuamos sendo um povo pacífico, até demais. Mas tem um segmento na nossa sociedade que está louquinho para armar uma tremenda confusão. São os tais dos Evangélicos. Enquanto não transformarem nosso país numa Irlanda, naquela luta fraticida entre Católicos e Protestantes, parece que não vão sossegar. Está na hora de alguém com visibilidade nacional, alertar para essa imbecilidade.
Martim Berto Fuchs.