sexta-feira, 15 de maio de 2009

O terceiro mandato, diferente dos dois anteriores?

Carlos Chagas

Vamos supor, apenas como especulação, que a candidatura de Dilma Rousseff não se sustente e que José Serra fique a um passo de eleger-se presidente da República. Nessa hora, que pode ser no segundo semestre deste ano, crescerá entre os detentores do poder a obstinação de não entregá-lo, coisa que só pode acontecer através do terceiro mandato, quer dizer, da candidatura do Lula a mais uma reeleição. Suponhamos, também, que o Congresso continue fazendo o dever de casa e aprove emenda constitucional permitindo esse golpe contra o estado democrático. E que o presidente, conforme todos os prognósticos, receba o apoio de mais de 70% do eleitorado.

Terá chegado, assim, a hora de projetar o futuro. Seria o terceiro período de governo do companheiro-mór igual aos dois anteriores? De jeito nenhum. A ideologia do Lula e do PT, esmaecida nos dois primeiros mandatos, teria então sua real oportunidade de prevalecer. Contas poderiam ser acertadas entre o presidente e as forças às quais precisou curvar-se por oito anos, agora em função da crise econômica mundial que vem levando o capitalismo e o mercado à bancarrota. É onde jogam seus cacifes os petistas ideológicos sufocados há muito tempo. Fugir para a frente passaria a única opção do terceiro mandato. Novas realizações no campo social, estatizações, afastamento definitivo do modelo econômico neoliberal e reorganização partidária. Atenção especial à reforma agrária, à uniformização do ensino e da saúde pública. Acima de tudo, a tentativa de dominação da classe média através de seu desligamento das elites e sua aproximação com as massas, jamais por baixo, isto é, sem a ampliação da miséria. Pelo contrário, através do fortalecimento e da participação dos assalariados e da diminuição do espaço dos especuladores e sucedâneos.

Sonho de noite de verão por parte de quantos ainda se aferram ao socialismo, mesmo um novo socialismo, sem raízes no fracassado regime comunista, décadas atrás escoado pelo ralo?

Certo ou errado, ilusão ou possibilidade, é sobre esse cenário que desde já debruça-se a inteligência antes dita esquerdista: a busca por novos caminhos capazes de definir o papel do Estado no Século XXI. Um perigo ou uma saída? Quem quiser que responda, mas é por aí que se forma nova corrente de pensamento nacional. Mesmo com o pecado original de estar tudo assentado num golpe, definição mais correta para o terceiro mandato.

Round perdido, luta em andamento

Hoje as oposições conseguiram vencer o governo, por pontos, no round envolvendo a CPI da Petrobrás, no Senado. Ontem, a maioria conseguira por acordo de líderes, inclusive do DEM, protelar a leitura da constituição da CPI, trocando-a por uma audiência pública com o presidente da empresa, Sérgio Gabrielli. Os tucanos reagiram, até com certa virulência verbal. Diante da impossibilidade de o senador José Sarney presidir a sessão matutina desta sexta-feira, mandaram um jatinho buscar em Goiânia o primeiro vice-presidente, Marconi Perilo, do PSDB. Ele chegou a Brasília e cumpriu o dever de casa, procedendo a leitura não de um, mas de quatro pedidos de instalação de CPIs sobre a Petrobrás. As bancadas governistas sumiram do plenário, apenas o senador João Pedro dispôs-se ao sacrifício de defender o adiamento.

A reação oposicionista não significa que a Petrobrás terá expostas suas entranhas. O governo continua majoritário, há uma fila razoável de pedidos de outras CPIs e não vai ser fácil ultrapassá-los. Mesmo nesse caso, os obstáculos serão grandes: constituir uma CPI não significa instalá-la. É preciso que todos os partidos indiquem seus representantes, podendo PT, PMDB e outros ficar de braços cruzados. Além disso, ainda que instalada, a CPI deverá trabalhar conforme a estratégia do palácio do Planalto, podendo rejeitar oitivas e testemunhas. De qualquer forma, foi um dia de vitória por pontos numa luta de intermináveis rounds.

Arábia, Turquia, Indonésia e China

Mandou-se o Lula para a Arábia Saudita, a Turquia, a Indonésia e a China. Nada mais necessário do que o Brasil mostrar-se, celebrando acordos e contratos em todo o mundo. Mas deve precaver-se o presidente, porque dos quatro países a visitar, só um é democracia plena: a Turquia. Nos demais prevalecem ditaduras, sob variados aspectos e conjunturas. Qualquer palavra a mais, qualquer improviso desses tão comuns ao companheiro-mór será capaz de desagradar os anfitriões. Tomara que ele se atenha aos discursos preparados pelo Itamaraty, mantendo férrea a política de não ingerência em assuntos da economia interna de outras nações.

Dobradinha em marcha

Por mais que o governador Aécio Neves negue, progride a hipótese de o PSDB apresentar a chamada chapa pura nas eleições presidenciais do ano que vem. José Serra para presidente, Aécio Neves para vice. A argumentação é poderosa, nos porões do ninho dos tucanos: seria quase imbatível a união de Minas e São Paulo. E nenhuma reclamação do Nordeste ou de outras regiões prejudicaria a oposição, porque, afinal, a dobradinha irá apenas repetir-se. Ou o Lula não representa São Paulo e José Alencar, Minas?

Em defesa dos companheiros

É esperada para esta semana, no Senado, a intervenção de pelo menos dois representantes do PMDB, em defesa de companheiros hoje retirados, recentemente agredidos pelo presidente Lula. Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos devem criticar o pedido de desculpas feito pelo presidente ao ministro Celso Amorim, por haver nomeado embaixadores fora de carreira no início de seu governo. Itamar Franco, para Roma, e Paes de Andrade, para Lisboa, com Tilden Santiago, do PT, de quebra para Havana. O Itamaraty forçou a saída dos três, até de forma grosseira, reivindicando exclusividade para diplomatas de carreira no preenchimento das nossas embaixadas.

O que o presidente Lula não precisava era ter-se dito arrependido por haver aproveitado políticos derrotados. Primeiro porque nenhum dos três concorreu às eleições de 2002. Depois, porque no mundo inteiro, e até em todos os governos anteriores, no Brasil, sempre foi costume a nomeação de embaixadores fora da carreira.  

4 comentários:

  1. Sou mineira e afirmo: não voto em Aécio MAS É NUNCA!

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  2. Prezado Jornalista Carlos Chagas:

    Por que o Presidente Lula não pode ter um terceiro mandato, se for aprovado uma emenda à constituição e depois referendada pelo povo? Isto não está de acordo com a sistema democrático liberal vigente?

    O FHC, eleito para um mandato, obteve dois consecutivamente apenas com aprovação formal de uma emenda à constituição. Inclusive a aprovação deste emenda constitucional foi muita estranha e não foi submetida à aprovação popular. Isto não foi jamais questionado como violação do estado de democrático de direito?

    Por que o terceiro mandato do Presidente Lula, que sequer formalizou esta via, já pode ser considerado ilegitimo e contra as regras da democracia?
    Será por que ele é o presidente que mais tenha identificação e representatividade com o "povão"?

    Obrigado, desde já, se puder responder as questões acima.

    Tenho muito respeito e admiração por seu trabalho.

    Certo de sua atenção.

    Jorge Rubem Folena de Oliveira, Rio de Janeiro.

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  3. o leitor Jorge Rubem, está equivivocado e muito quando menciona que o terceiro mandato pode fazer parte do jogo, se for assim vamos legalizar ou aceitar a tortura, a guilhotina, e como escrve o inigualável Jornalista Carlos Chagas " Aí é que está o ovo da serpente." a mamata dos companheiros tem hora certa para acabar, seja aqui no RJ ou em Brasília agradeço pelo espaço saudações.
    Alyson Almeida Niterói RJ

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  4. Nobre Jornalista Carlos Chagas!
    Meu amigo pessoal, Tilden Santigo concorreu em 2002 a senador, e perdeu por menos de 1% para Helio Costa em Minas, o que foi muito ruim para Minas.

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