sexta-feira, 29 de maio de 2009

A montanha gerou um rato

Carlos Chagas

A semana vai terminar marcada pela constituição da CPI da Petrobrás. A próxima, provavelmente, começará terça-feira com a instalação dos trabalhos. O presidente Lula gastou horas e dias de preocupação, reuniu-se mil vezes com auxiliares, ministros e líderes de partidos da base oficial, assustado com a possibilidade de seu governo desmoronar a partir de depoimentos, denúncias e revelações referentes aos intestinos da maior empresa nacional.

Com todo o respeito, foi e poderá continuar sendo tempo perdido. Menos pela blindagem efetuada na CPI, plena de governistas empedernidos, mais porque em momento algum a Petrobrás sofrerá abalos fundamentais. Se determinadas facilidades foram praticadas em favor do PT e afins, se o auxilio a algumas ONGs fajutas extrapolou dos cuidados da boa administração, mal nenhum fluirá de sua exposição. Pelo contrário, poderão ser adotados cuidados maiores para o futuro.

A Petrobrás é maior do que seus dirigentes, ultrapassa de muito a biografia de Sérgio Gabrielli e os demais diretores. A menos que no bojo das investigações venha a emergir o inimaginável, que se existisse já teria sido exposto há muito tempo, a empresa nadará de braçada nesse lago plácido onde as oposições pretendem navegar. E isso por razão muito simples: fora certas publicidades exageradas e alguns favorecimentos centenários a amigos de quem está no poder, a Petrobrás é o retrato do Brasil. E o Brasil jamais irá sucumbir.

A gente fica pensando se o presidente Lula não tem mais nada a fazer senão ficar vigiando a composição da CPI ou o preenchimento das funções de presidente e relator. Imaginar que a próxima sucessão presidencial venha a ser abalada por inquirições e depoimentos variados é fazer pouco da candidata Dilma Rousseff. Ou esperar muito do sobrevôo dos tucanos. No caso, a montanha acabou gerando um rato.

Mineiro não é bobo

De vez em quando o PT comporta-se como menino de curso primário diante de uma tábua de logaritmos. Essa história de espalhar que o ministro Hélio Costa poderá tornar-se companheiro de chapa de Dilma Rousseff é o mais recente exemplo de infantilidade. Senador licenciado e ministro das Comunicações, Hélio Costa surge como o grande lobisomem dos companheiros, na medida em que o PMDB lançará sua candidatura ao governo de Minas, ele que quase chegou lá, anos atrás. O PT quer afastá-lo mas permanece dividido entre Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, e Patrus Ananias, ministro da Integração Social. Se continuar assim, dará adeus à possibilidade de ocupar o palácio da Liberdade. Por manobra pueril, o partido do presidente da República tenta afastar concorrentes em vez de definir sua opção e partir para a conquista de votos.

Não haverá um eleitor mineiro, sequer, capaz de acreditar que Hélio Costa abrirá mão de uma candidatura promissora para lançar-se numa aventura que nem sequer está esboçada.

Um murro na mesa, próprio de um estadista

Diz o presidente Lula que não lê jornais nem assiste telejornais e radiojornais, ou seja, não quer saber como a população é informada de tudo o que se passa no país. Terá suas próprias informações, na melhor das hipóteses.

Com o crescimento da proposta de prorrogação de todos os mandatos, crescendo até mais do que a tese do terceiro mandato, muita gente pergunta porque o presidente não dá um murro na mesa e adota postura de estadista, igual àquela que Juscelino Kubitschek adotou quando levaram a ele a possibilidade de reeleger-se no exercício do governo. Botou para fora de seu gabinete o autor da proposta e iniciou campanha para voltar cinco anos depois, coisa que a vida afastou com amargura.

Para acabar com essa onda de rumores e boatos a respeito da continuidade do Lula no poder, seja qual for a estratégia, bastaria o presidente convocar uma cadeia de rádio e televisão e, em cinco minutos, mostrar-se o estadista que sua biografia merece. Afirmar com todas as letras que depois de 31 de dezembro de 2010 seus amigos o encontrarão em São Bernardo, pronto para conversar e silenciar sobre o governo do sucessor. Mesmo se o Congresso aprovar a prorrogação de mandatos ou o terceiro mandato, deixaria Brasília. Senão no Aerolula, num avião de carreira ou até de ônibus ou pau-de-arara.

Agora, uma atitude tão simples assim exige um estadista.

Boi-de-piranha, não

O governador Roberto Requião, do Paraná, fica sensibilizado quando companheiros do PMDB lembram seu nome como possível candidato do partido à presidência da República. Concorda com a tese de que a maior legenda nacional não deveria omitir-se da maior decisão nacional da conjuntura, que seria disputar o palácio do Planalto com indicação própria.

Isso na teoria, porque na prática não parece disposto ao papel de boi-de-piranha. Sabe muito bem que o PMDB é uma federação de divergências e que do jeito que as coisas vão, manterá a estratégia de anos atrás: ficar no poder sem os ônus da responsabilidade maior.

Até que Requião daria um bom candidato e melhor ainda presidente da República. Costuma atropelar empecilhos e contestar verdades absolutas. Mas se for para ser sabotado por seu próprio partido, não contem com ele. Por enquanto, a equação encontra-se em aberto.

2 comentários:

  1. Nada como a reflexão.

    Nada como os prazos dos procedimentos.

    Por certo a Petrobras sairá ilesa, afinal CPI é apenas um instituto democrático, e no caso, profilático.

    Uma instituição do tamanho da Petrobras, com orçamento similar ao da nação, por evidente sofre com o ataque desse microorganismos oportunistas, que apresentam uma enorme pluralidade de espécies, identificadas pela nomenclatura partidária, que compõem o genero causador da síndrome corrupção.

    A identificação, e eliminação de dutos por onde escorre o percentual histórico do faturamento que sustenta os corruptos de sempre, é medida profilática, recomendada e benvinda, mesmo que não ofereça nenhuma garantia de evitar novas e certas infestações. Deve ser entendida como ato similar ao banho, portanto de caráter higiênico.

    Por sorte, e também por extrema tibieza política, o panorama político nacional identifica apenas três protagonistas. Dois deles, o PT e o PSDB, iguais no principal, ou seja, professam a mesma religião econômica, especialmente no que diz respeito à política monetária, favorecendo ao máximo o sistema financeiro. Ganha um doce quem demonstrar diferenças entre as equipes econômicas de Lula e FHC. O outro doce, como de hábito vai para o PMDB, é o custo maroto da governabilidade.

    O efeito da CPI será propiciado não pela atuação recalcitrante de seus membros, mas sim pela circunstancial retração dos patógenos, que, face à incidência de holofotes, restarão mais inertes.

    O que importa, nessa CPI, tanto quanto em outras, mesmo que numa observação eivada de cinismo, não é o resultado, mas sim, a publicidade e a inserção do tema no cotidiano dos bares, lares, e outros logradouros.

    Quanto ao papel da imprensa, será como sempre o foi, destaques para algumas revelações, e alívio caso a irrigação generosa da publicidade estatal não sofrer interrupção.

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  2. As colunas, sempre OPOSICIONISTAS ao governo federal (gratuitamente?) de Carlos Chagas estão cansativas e repetitivas demais...

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