quinta-feira, 28 de maio de 2009

Os militares baterão continência

Carlos Chagas

Vale abrir com a premissa: com a redemocratização de 1985 e o fim do regime militar, as Forças Armadas passaram a engolir sapos em posição de sentido e vem mantendo conduta exemplar, voltadas para suas funções constitucionais. Bissextos pronunciamentos enaltecendo o passado constituem episódios mais do que naturais, mesmo reprováveis.

Essa postura de isolamento, no entanto, não significa que os militares se encontrem desligados da realidade nacional. Participam das agruras e dos momentos de euforia de toda a sociedade e não deixam de observar os sucessivos lances da política, da economia e da administração.

Dias atrás, reuniram-se em Porto Alegre os generais em comando no Sul do país. Num dos encontros estava presente o governador de um dos estados da região, e a conversa, totalmente informal, versou em torno do terceiro mandato do presidente Lula ou da prorrogação de todos os mandatos para efeito de coincidência das eleições em 2012. As opiniões foram claras: os generais veriam com naturalidade uma iniciativa do Congresso nesse sentido, desde que constitucionalmente adotada.

Apesar das dificuldades de ordem financeira, com cortes e contingenciamentos orçamentários ditados pela crise econômica, as Forças Armadas estão muito satisfeitas com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Reconhecem seus esforços e os resultados obtidos em favor do estamento castrense. Veriam com bons olhos a continuidade de Jobim no cargo, por mais dois anos.

Registre-se esse evento como antídoto para a intriga de que os militares não aceitariam mudanças nas regras do jogo. Passou o tempo dos pronunciamentos, importando repetir: desde que adotadas de acordo com o processo institucional e democrático vigente.

Proposta em ascensão

Será inútil tapar o sol com a peneira. A proposta da prorrogação de todos os mandatos por dois anos passou à frente da tese do terceiro mandato para o Lula. Seria mais viável aprová-la no Congresso, já que além de beneficiar o presidente da República e os governadores, favoreceria deputados e senadores.

Como discordar ainda não foi proibido, haverá que registrar uma opinião pessoal: a prorrogação de mandatos é imoral, ainda que venha a ser constitucional. Ou a sociedade civil se mobiliza, caso concorde com esse diagnóstico e disponha de forças para impor sua opinião, ou o mundo político logo festejará a permanência de seus atores no palco até 2012. Mesmo entre a maioria dos oposicionistas, germina a tentação de aprovar o casuísmo. Afinal, José Serra e Aécio Neves ganhariam tempo para seus planos futuros com a permanência nos palácios dos Bandeirantes e da Liberdade. Para não falar nos demais governadores, no próprio presidente da República e, de tabela, seus ministros. Ou nos parlamentares federais e estaduais. Sem esquecer a candidata Dilma Rousseff, para quem dois anos de moratória seriam fundamentais para suas pretensões.

Aqui para nós, não cabe aos jornalistas discutir com a notícia, mesmo reconhecendo o caráter ignominioso de muitas. A notícia hoje é essa, apesar de todos os mandatários terem sido eleitos para períodos determinados. Mas como o sociólogo puxou a fila da implosão das instituições, impondo a reeleição, fica difícil aos partidos argumentar com a ética.

Emenda constitucional de autoria do deputado Sandro Mabel logo começará a tramitar, estabelecendo a coincidência de mandatos federais, estaduais e municipais, ao fim dos mandatos municipais. A menos que o presidente Lula se insurja, dê um murro na mesa e acabe com a traquinagem.

Ninguém lembra de Getúlio e Brizola

Semana passada o presidente Lula declarou que nenhum governante, antes dele, realizou sequer 50% do que vem realizando em matéria de educação e ensino. Nenhuma voz levantou-se para protestar, sequer no PTB e no PDT. Ou não foram Getúlio Vargas, que criou as universidades públicas, e Leonel Brizola, que nos governos do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro promoveu a maior revolução no setor?

Dá uma certa tristeza verificar como a memória nacional é posta em frangalhos diante do sabujismo. O Lula pode estar avançando muito no plano do ensino e da educação, mas daí a considerá-lo ou deixar que ele se considere, sem um reparo, o maior de todos os governantes, a distância é imensa.

A morte e os assassinos

A morte anunciada da “Gazeta Mercantil” faz vestirem luto os velhos jornalistas. Segue-se ao assassinato de numerosos outros veículos de comunicação, desde o “Correio da Manhã”, o “Diário de Notícias”, a “Ultima Hora”, “O Cruzeiro”, “O Jornal”, o “Diário da Noite”, a “TV-Rio”, a “TV- Excelsior”, a “TV-Manchete”, a “Manchete” e quantos mais?

Um só denominador revela o drama da mídia nacional, porque outras publicações ou emissoras encontram-se na fila do cadafalso. Más administrações tem sido sistematicamente substituídas pela sanha de vigaristas que, sem tirar nem pôr, adquirem o patrimônio esgarçado, não cumprem os compromissos assumidos, retaliam as empresas, deixam os empregados à míngua e saem, quase sem exceção, com as contas bancárias recheadas.

Tem razão mestre Alberto Dines quando diz que todo proprietário bem sucedido de empresas jornalísticas logo se transforma em proprietário de mil outras atividades, enquanto os proprietários de mil outras atividades sempre dão um jeito de tornar-se proprietários de empresas jornalísticas. Para que? Para colocarem a notícia a serviço de seus interesses...

5 comentários:

  1. Observo um aspecto em quem ainda lê hoje em dia. A grande maioria das pessoas tornaram-se frívolas e de leitura fácil. Só querem ler abobrinhas e preencher quadradinhos - mesmo nas escolas - de respostas sobre perguntas inúteis. Jornal e revista com assunto sério não tem mais futuro, pois tem cada vez menos leitores e pessoas interessadas. Mas também, Carlos Chagas, convenhamos. Adianta se preocupar com coisas sérias se os políticos que fazem as leis e governam este país, só pensam em si ?
    Martim Berto Fuchs.

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  2. Sr. Carlos: um terceiro mandato é inaceitável. Seria perigosíssimo para o país. Mas a prorrogação do mandato do presidente, governadores e deputados poderia ser uma solução, pois o Brasil não aguenta mais eleições de dois em dois anos. Assim todos os mandatos(de prefeito a presidente) seriam coincidentes. Acabaria a matreirice(?) de alguns largarem o cargo no meio do caminho, tentar uma eleição a um cargo mais importante, e em caso de derrota, voltar para onde estava.

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  3. Não acho que um terceiro (ou quarto, ou quinto, tanto faz) mandato seja perigoso. Time que está ganhando não se mexe.

    O que acho péssimo é o FATO de que não podemos demitir nossos representantes imprestáveis. Se depender deles, não largam o osso. Isso é que é ruim para a democracia.

    Eleições de 4 em 4 anos para todos os cargos de prefeito a presidente. Perfeito!

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  4. JOSÉ CARLOS WERNECK28 de maio de 2009 às 14:21

    A reeleição no Brasil,mostrou-se uma prática espúria e antidemocática,favorecendo descaradamente o candidato que ocupa o cargo.Ele praticamente compra o mandato.Num país com grande número de miseráveis e analfabetos(estes ocupando inclusive postos de destaque no Governo) e uma distribuição de renda perversa,a reeleição é a melhor arma de que dispoem os governantes populistas e inescrupulosos.O terceiro mandato é uma imoralidade e um golpe branco contra a nossa incipiente democracia.A alternância no Poder oxigena a Democracia e é muito mais saudável para o desenvolvimento nacional.Até durante o Regime Militar,os generais de plantão trocavam de guarda.O ditador mais cruel e sanguinário que tivemos foi um civil:Getúlio Vargas.Prendeu,arrebentou,torturou e matou e ainda é lembrado como o "pai dos pobres".Nosso povo é iletrado e por isso é alvo fácil dos demagogos.

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  5. E mais: mandato de OITO anos para senador!! Por que isso??

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