sexta-feira, 15 de maio de 2009

João Havelange: 24 anos presidente da Fifa, premio Nobel de futebol

João Havelange completou 93 anos dia 8 de maio. Continua o mesmo, incansavel , memoria prodigiosa, respondendo a todas as perguntas. 

Deu entrevista de 2 horas à Band News, canal 150 da Net. Não hesitou um segundo, as respostas saíam na hora, como se estivesse consultando alguma coisa, lendo ou repetindo. Era apenas vivencia e convivencia com o mundo, esse mundo que ele conheceu inteiro e pessoalmente.

Foi uma pena o entrevistador, Silvio Luiz, tivesse tido a ideia (boa) de entrevista-lo, mas conhecendo pouco da sua vida. Os fatos mais marcantes do João Havelange, candidato a presidente da Fifa, e o João Havelange que se elegeu e ficou 24 anos no cargo. 

E note-se: em todas as eleições (excetuada a primeira) ninguem queria concorrer com ele. Pegou a Fifa numa sala alugada, na Suiça, e deixou-a como a maior organização esportiva (e até não-esportiva), num edificio majestoso e proprio. E mais: hoje, centenas de milhões de pessoas vivem e muito bem, do futebol.

Havelange teve a ideia de se candidatar, muito antes do fato consagrado, consumado e consolidado. Mas não foi facil. Era presidente de uma empresa de onibus, que administrava com o mesmo carinho e dedicação que destinou a então CBD, e depois à Fifa.

Registre-se, ressalte-se e ressalve-se: pelo fisico e disposição, foi um zagueir até razoavel. Mas se destacou mesmo, dentro d'água. Campeão carioca, paulista, brasileiro e sulamericanode natação e water polo, provocou surpresa quando foi dirigir futebol. 

Organizador nato, na Copa do Mundo de 1958 e de 1962, (as duas primeiras comandadas por ele), cuidou dos minimos detalhes. A delegação teve até dentista e psicanalista, ninguem pensara nisso antes. Nem ele pensava ainda em dirigir o futebol mundial. Curiosamente, essa definição surgiu em 1966, na Copa da Inglaterra, a unica em que o Brasil não passou da chave inicial.

Mas sua campanha foi estruturada, não publicamente, em 1971/72. Neste ultimo ano, é que surgiria, fui dos primeiros a saber. Basta dizer isto: em 1972, se realizou em São Paulo, o que se chamou de Mundialito. Encontrei Havelange na entrada do hotel, ali mesmo me deu entrevista sobre a candidatura. Publiquei no dia seguinte, revelação espetacular. Todo o 1972/73 até março de 1974 (quando seria a Copa da Alemanha e a eleição do presidente, com Stanley Raus no cargo e certo de mais 4 anos) Havelange passou em campanha pelo mundo.

Na Europa, tentavam ridiculariza-lo, diziam: "Esse sulamericano não ganha, se ganhar não toma posse, se assumir, em 60 dias vai pedir para ir embora". Não conheciam o João. Com 60 dias, já dominara tudo, de surpresa em surpresa, os 8 votos de diferença se transformaram logo em quase unanimidade, a seguir, em unanimidade mesmo.

O primeiro grande teste surgiu em 1976, logo 2 anos depois. Em pleno apartheid (com Mandela preso) o presidente da Confederação de Futebol da Africa do Sul, pediu audiencia a João Havelange. Recebido, afirmou logo: "Presidente, vim lhe comunicar que não disputaremos a Copa da Africa". Havelange perguntou a razão, recebeu a resposta. "Não jogamos com negros".

Tranquilo, Havelange perguntou se ele tinha "o apoio do país". Tendo recebido a resposta afirmativa, Havelange falou: "Faça essa comunicação por escrito, com assinaturas oficiais". O presidente do futebol da Africa do Sul voltou com o documento. Havelange submeteu-o ao Conselho Executivo, com a afirmação: "Se não joga com NEGROS, também não joga com BRANCOS".

A Africa do Sul foi imediatamente expulsa da Fifa, a primeira grande derrota do apartheid. A repercussão, mundial e estrondosa. Durante meses, não se falou noutra coisa. João não se empolgou ou superestimou, continuou seu programa administrativo, de promoção, publicidade e desenvolvimento. (Da Fifa e do futebol).

Em 1974 a televisão ia se fortalecendo no mundo, mas não representava 10 por cento do que vale hoje. Nos estadios não existiam placas, nos uniformes nenhum patrocinio, tudo começou com ele. E apesar da comunicação não ser facil e instantanea como hoje, viajou o mudo inteiro, foi duas ou tres vezes ao s 37 paises da Africa, à União Sovietica, nenhum país ficou sem sua visita. (Com a unica exceção do Afeganistão, sempre em guerra, jamais obteve visto no passaporte).

E uma ressalva que é também uma revelação. Tendo viajado mais do que muito piloto de avião, Havelange não é empolgado por esse tipo de viagem. Mas ninguem descobre nele o menor receio ou medo de viajar. Senta, tira do bolso um caderno de "palavras cruzadas", e se desinteressa inteiramente.

Até que chegou o momento, que fora da administração propriamente dita, se transformou, politicamente, na grande e historica realização dos seus 24 anos na Fifa. Tendo ido visitar, rotineiramente, as duas Chinas, ficou assombrado com o fato e não deixou mais de pensar no fato que chamou logo de disparate.

Como é que a China comunista, de 1 BILHÃO de habitantes, (naquela epoca) ficava fora da Fifa, enquanto a China de Chan Kay Chek, de apenas 300 mil pessoas participava da Fifa? Havelange, no seu estilo de fazer, começou a cuidar do assunto, queria que a China comunista entrasse para a Fifa. 

É preciso chamar atenção para o fato: Havelange é conservador, por FORMAÇÃO, VOCAÇÃO e CONVICÇÃO. Um FAZEDOR sem ideologia, não poderia ser definido nem mesmo como de centro. Começou a articular para que as DUAS Chinas, a comunista e a continental, participassem da Fifa.

Quand Chan Kay Chek afirmou publicamente, "não continuarei na Fifa, com a entrada da China de Mao Tse Tung", Havelange tinha o problema RESOLVIDO. Pare ele, mas não para o Comitê Executivo, de 21 membros. 14 ou 15 estavam contra a admissão da China comunista. 

Nessa epoca, afirmou: "Dentro no maximo de 4 meses, 1 bilhão de chineses estarão participando da festa do futebol no mundo, gostaria que os outros, da China continental, também festejassem".

Não foi possivel, o reacionarissimo e corrupto general da China menor, cumpriu o que dissera: com a aprovação da China comunista, saiu mesmo. Foi um erro e um equivoco. João Havelange transformou a Copa do Mundo num espetaculo tão fascinante e tão disputado, tão lucrativo como realização, que todos queriam participar.

Mudou então os criterios de escolha, foi obrigado a aumentar o numero de participantes. Eram 16, passou para 24, alguns anos depois para 32, daí não aumenta mais, de jeito algum. Mas é tal o prazer e a honra da Copa, que pelo menos metade desses 32 países mergulha na felicidade apenas pela classificação.

Havelange sempre disse: "Jamais serei derrotado. Na hora certa deixarei a presidencia da Fifa". Achou que essa hora seria 1998, Copa da França. E m1996, como a sede da Copa é decidida 6 anos antes, sem a sua aprovação, escolheram dois países (Japão e Coreia) para a Copa de 2002. 

Ele sempre foi contra isso, vetou até a Copa na Belgica-Holanda, países ligadissimos, e a Belgica praticamente sua origem, terra dos seus pais. Em 1998, Copa da França, deu entrevista exclusiva ao reporter Rodolfo Fernandes, que lhe perguntou: "Por que dois países, presidente?". E Havelange, tranquilo e fulminante: "Sacanagem com o Havelange".

PS: Nesse 1998, decidiu sair, indicou como seu candidato Joseph Blater, apenas secretario, embora com salario de 300 mil dolares anuais. 10 dias antes, Havelange se convenceu de que ganharia, mas o registro precisava ser feito 30 dias antes. Blater ganhou no primeiro turno. Está lá até hoje, e só sairá quando quiser.

PS2: Quem quer ser presidente da Fifa é o c-o-r-r-u-p-t-i-s-s-i-m-o Ricardo Teixeira, ex-genro de Havelange, brigados muitos anos, agora reconciliados.

PS3: Mas o execravel "dono" do futebol brasileiro só se elegerá na Fifa, se Havelange viver 120 anos. Aceito que o "destino" dê a presidencia a Teixeira, se Havelange estiver presente.

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